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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Eu triste sou calada



Eu brava sou estúpida


Eu lúcida sou chata


Eu gata sou esperta


Eu cega sou vidente


Eu carente sou insana


Eu malandra sou fresca


Eu seca sou vazia


Eu fria sou distante


Eu quente sou oleosa


Eu prosa sou tantas


Eu santa sou gelada


Eu salgada sou crua


Eu pura sou tentada


Eu sentada sou alta


Eu jovem sou donzela


Eu bela sou fútil


Eu útil sou boa


Eu à toa sou tua
Eu senti nada de nada.


Nada de nada;


No meu triste mundo.






Eu olhei e não vi ninguém.


Não vi ninguém no meu mundo.


Não vi ninguém senão a Escuridão.


Não vi nada de nada,


Senão desertos pintados sem cor.


Não vi nada nem ninguém


Nem vi rostos dentro de mim.


Eu não vi génio nenhum


Nem criança brincado no escuro.


Não vi nada, nada e fiquei cego!


Cego de uma estranha solidão


Que me ardeu nos olhos…






Não+ vi nada de nada


No meu triste mundo.






Não ouvi nada p'ra além do imenso silêncio


Não ouvi nada p'ra além de uma voz calada.


E eu só ouvi silêncios


Que suspiravam ecos nas paredes negras!


Eu ouvi uma grotesca e fria voz


Uma grotesca e fria voz que nada dizia.


Eu ouvi o vento sibilar o meu nome.


Mas não ouvi nada pois estava surdo.


Não ouvi nada senão uma voz a gritar por mim.






Não ouvi nada de nada


No meu triste mundo.






Eu gritei alto por ti


Eu gritei o teu nome e gritei também por mim.


Gritei então nomes que ainda nem sabia


Gritei por socorro e só a minha voz me veio salvar.


Eu gritei por mim,


E sem saber gritei por ti!


Depois gritei-nos ao mesmo tempo.


E era por nós que gritava socorro


Eu gritei e gritei e fiquei sem a minha voz.


Eu fiquei sem voz por tanto gritar


Fiquei sem voz por gritar por uma voz!






Não gritei nada de nada


No meu frio mundo.






Eu cheirei todo o mundo pelo meu nariz.


Eu cheirei uma flor morta de tanto esperar


Eu cheirei e era a morte vinda de mim.


Eu cheirei algo podre e eram as verdades.


O cheiro decrépito e decomposto que eu cheirei,


Vinha do receio que eu tinha;


De ter de cheirar verdades.


Eu cheirei o mundo,


Mas tive medo de me cheirar a mim.


Sei que tive medo porque o cheirei;


Eu cheirei o medo que me cheirava.


Tive medo de me cheirar


Por medo de nunca ter existido.






Eu cheirei nada de nada


No meu frio mundo.






E sem querer eu olhei.


Eu ouvi, eu gritei, eu chorei.


E depois até senti…


Meu Deus! Eu senti!


Eu senti algo que não sei se senti.


Eu senti, eu imaginei, eu pintei;


E depois também escrevi.


Eu escrevi um mundo e pintei ainda mais


E imaginei ainda os infinitos.


Mas não senti nenhum.


Então olhei-me de frente


E quase que me ouvi;


Eu gritava. Eu gritava!


E era por ecos que gritava.


Gritava e era por mim e só por mim.


Gritava por não ter cheiro a flor morta


Mas por cheirar a morte sem flor.


Mas foi então que eu senti. Que me senti.


Frio como era o meu mundo…


Onde eu nunca senti!






Não senti nada de nada


No meu frio mundo.






No meu frio mundo.


Eu não me senti só


Nada de nada só! …






No meu frio mundo;


Tudo de tudo eu senti.


Perdoa-me porque lá do fundo


Eu sei que te menti!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Do outro lado ela vem



Usando roupas pretas,


O batom negro realsa seu rosto pálido


E os olhos brilham


Na vasta escuridão dos seus cabelos,


Mãos suaves de donzela


Caminha...


Sozinha...


Quieta como uma fada


Apreciando a melancolia ela vaga


Não olha para os lados


Não da atenção a chamados.


Segue seu caminho


Sem temer a morte


Mata demônios


Garota gótica


Ela volta a seu santuário


Onde ninguém a critica


Onde ninguém a olha


Onde esconde-se


De pensamentos terrenos


Ingênuos


Apreciando a luz do luar


E o frio polar


Do seu coração negro a sangrar