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terça-feira, 31 de agosto de 2010

 Eu sou a que no mundo anda perdida,


Eu sou a que na vida não tem norte,


Sou a irmã do Sonho,e desta sorte


Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,

Impele brutalmente para a morte!


Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê.
Sou a que chamam triste sem o ser...

Sou a que chora sem saber porquê...





Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

Alguém que veio ao mundo pra me ver,

E que nunca na vida me encontrou!

                                                                                                                     
                                                                                                                    
                                                                                                                       
Nunca fui como todos


Nunca tive muitos amigos


Nunca fui favorita


Nunca fui o que meus pais queriam


Nunca tive alguém que amasse

Mas tive somente a mim


A minha absoluta verdade


Meu verdadeiro pensamento


O meu conforto nas horas de sofrimento


não vivo sozinha porque gosto


e sim porque aprendi a ser só...

Florbela Espanca

poema de florbela espanca

                                                                    Minhálma, de sonhar-te, anda perdida



Meus olhos andam cegos de te ver!


Não és se quer razão do meu viver,


Pois que tu és já toda a minha vida!






Não vejo nada assim enlouquecida...


Passo no mundo, meu amor, a ler


No misterioso livro do teu ser


A mesma história tantas vezes lida!






"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."


Quando me dizem isto, toda a graça


Duma boca divina fala em mim!






E, olhos postos em ti, digo de rastros:


"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,


Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..."


Florbela Espanca